Precisamos falar sobre Max Verstappen


O garoto é bom pra c*** - Gente, precisamos falar sobre Max Verstappen. É sério.

Uma semana já se passou, mas ainda há quem esteja estupefato com a atuação do jovem piloto holandês no GP do Brasil. Me incluo nessa. E não é para menos, já que o vimos dar uma AULA de pilotagem. Isso mesmo, AULA em letras maiúsculas, assim como foi o seu desempenho no encharcado asfalto do autódromo José Carlos Pace.

Sei que quem está lendo este texto pode pensar: 'nossa, quanto exagero'. Contudo, não vejo dessa forma. Exaltar o talento e habilidade de alguém que fez algo notável é simplesmente saber reconhecer seus méritos. E neste caso, todo e qualquer elogio a ele é merecido, pois não é qualquer um que senta em um monoposto de corrida e afunda o pé no acelerador para andar a quase 300 km/h em uma pista encharcada. E mais raros ainda são aqueles que fazem isso de uma maneira tão natural. Aos 19 anos, Max Verstappen fez isso e muito mais.

O piloto da Red Bull não só guiou com uma precisão absurda, como se fosse um veterano que conhecia cada milimetro de Interlagos, ainda que essa fosse apenas a sua segunda corrida no circuito paulistano, e a primeira debaixo de chuva. Ele conseguiu algo mais difícil: encantou fãs e não fãs da Fórmula 1.

Fiquei realmente impressionado com a reação causada por seu desempenho. Durante e depois da prova, vi espectadores fieis, fãs ocasionais e até pessoas que não gostam da F-1 boquiabertos com o que Verstappen tinha feito. Em minha casa, esse fenômeno ocorreu. A começar pela minha namorada, uma não fã convicta de F-1.

Após ter dormido durante as quase que intermináveis paralisações devido a chuva, ela acordou e acompanhou aquele fim de prova junto comigo na sala de casa. E assim como eu, ficou impressionada com o arrojo e ousadia do moleque Verstappen, demonstrando reações diversas para cada movimento audacioso e questionando tudo aquilo que lhe trazia dúvida, já que ela não acompanha a categoria.

Também conversei com meu pai, grande fã de automobilismo (e responsável por me influenciar a gostar do esporte a motor) e meu irmão, fã mais ocasional da Fórmula 1. E ambos foram só elogios a performance do holandês, dizendo que era desse tipo de emoção que a categoria precisa.


São três pessoas diferentes, com opiniões e visões distintas sobre a F-1, mas que acabaram unidas em um ponto: todos admiraram o que Max tinha acabado de fazer. E isso, pelo menos para mim, é um grande ponto positivo. Fatos como esse demonstram que a categoria tem potencial para ser novamente interessante a uma gama maior de pessoas. A Fórmula 1 pode cativar não apenas os atuais fãs, mas também chamar atenção de novos espectadores para o esporte, colaborando assim com sua tão necessária renovação, desde que haja algo que detenha a atenção do público.

Claro, o que vimos no Brasil só aconteceu devido uma junção de fatores e Verstappen ou qualquer outro piloto não será o responsável único por uma mudança tão grande. Porém, ele e outros personagens têm tudo para serem protagonistas nessa transformação. O importante é pensar meios de como tornar a Fórmula 1 mais atraente. E ter bons pilotos faz parte desta equação.

Detalhes que escapam aos olhos


Ainda sobre o GP do Brasil, muita gente passou, depois da corrida, a comparar Verstappen com Ayrton Senna e Michael Schumacher, dois dos maiores nomes do automobilismo em todos os tempos e, claro, especialistas em asfalto molhado. Afinal, não é todo dia que surge um piloto com tanta habilidade para guiar debaixo de chuva.

Entretanto, tais comparações já eram esperadas. O que me surpreendeu mesmo foi uma história trazida em um texto do jornalista Lívio Oricchio, escrito para o GloboEsporte.com (recomendo muitíssimo a leitura). Na peça, além dos detalhes sobre o espetacular desempenho de Verstappen, Oricchio relata uma conversa que teve com Xevi Pujolar, ex-engenheiro do holandês na Toro Rosso e que hoje chefia os engenheiros da Sauber (e não da Williams, como diz o texto). No bate-papo, Pujolar explica detalhes que ajudam a entender melhor como Max conseguiu ir tão bem. Leia abaixo.

O GloboEsporte.com ouviu seu ex-engenheiro da STR, Xévi Pujolar, a quem Max foi depois procurar, junto do pai, Jos Verstappen, para abraçá-lo e celebrarem juntos a excepcional performance. “Pujolar se tornou um amigo, pela forma como trabalhou com Max no início na F1, no ano passado, na Toro Rosso.” Quando Max se transferiu para a RBR, a partir do GP da Espanha, este ano, Pujolar foi trabalhar na Williams, onde é chefe dos engenheiros de pista. 
Oricchio continuou.
O espanhol comentou: “Você viu como durante o safety car Max fazia trajetórias originais? Ele estava procurando entender se poderia colocar o carro por ali quando a prova fosse reiniciada, desejava saber se havia aderência, além de, na minha opinião, aqueles movimentos ajudarem muito a manter a temperatura dos pneus. Ele passava os outros com uma facilidade impressionante”.

As explanações de Pujolar, que trabalhou por cerca de um ano e meio com Verstappen e viu o show do holandês de perto, apenas enriquecem os relatos de Lívio Oricchio e nos dão a dimensão de quanto um piloto pode ser especial. Detalhes deste quilate muitas vezes passam despercebidos por nós, mas quando nos defrontamos com eles, podemos entender melhor o que se passa na pista e quanto um piloto se prepara. É muito bom poder contar com esse tipo de informação.

Personalidade forte e imã de polêmicas


Apesar de seu talento, não é só de grandes atuações que Max Verstappen vive em 2016. O garoto, que possui uma personalidade muito forte, tem sido um imã de polêmicas nesta temporada. Afinal, ele é o garoto que aos 17 anos estreou no Mundial de 2015 como titular da Toro Rosso, tendo somente uma temporada de experiência em monopostos, obtido na Fórmula 3.


É difícil não lembrar de pelo menos um fim de semana neste ano em que o nome Verstappen não estivesse envolvido em algo. E certamente o grande 'turning point' para essas mudanças aconteceu após o GP da Rússia, quando a Red Bull decidiu trocá-lo de lugar com Daniil Kvyat. Mesmo que indiretamente, Max estava envolvido em sua primeira grande polêmica na categoria. Contudo, sua resposta veio na pista. Logo em sua primeira corrida pela nova equipe, ele simplesmente venceu o GP da Espanha.

A partir daí, o holandês passou a ser figura constante nas primeiras posições. E com isso, seu comportamento agressivo durante disputas de posições passou a ser o centro das atenções, especialmente quando tais brigas aconteciam com os ferraristas Kimi Räkkönen e Sebastian Vettel. Boa parte do grid passou então a criticá-lo e até uma nova regra foi instituída graças a maneira que ele defendia sua posição. Só que o moleque, abusado que é, deu de ombros e não parece se preocupar minimamente com o que é dito por seus rivais.

Tal comportamento, no meu ponto de vista, se dá mais por conta de sua juventude do que por qualquer outra coisa. Verstappen sabe que é bom e por isso age assim. Ele tem pressa, como a maioria dos jovens, e quer mostrar serviço, seja da maneira que for, o mais rápido possível. Por isso ainda não consegue dosar da forma mais adequada toda essa agressividade. Com o tempo, o holandês vai saber como lidar com tudo isso, tornando-se um piloto ainda melhor.

Entretanto, esse amadurecimento precisa acontecer tão rápido quanto ele quer mostrar serviço, pois é necessário para que ele possa dar seus próximos passos. Max é um cara que está aprendendo e vai aprender muito mais nos anos em que estiver na categoria. E também acertará muito e errará bastante. Faz parte da vida de piloto.

Líder de uma talentosa e promissora safra de pilotos


Creio que não restam dúvidas de que Max Verstappen é um grande piloto, ainda mais depois de tudo o que ele fez em Interlagos no GP do Brasil. Mas mais do que isso, vejo o holandês como líder de uma safra de pilotos promissora e talentosa.

Pilotos como Stoffel Vandoorne, Esteban Ocon, Pascal Wehrlein, Carlos Sainz Jr., Daniil Kvyat e o novato Lance Stroll - só para citar aqueles que estarão no grid da Fórmula 1 em 2017 - poderão, em um futuro não tão distante, ser protagonistas da categoria. Todos me parecem muito promissores. Porém, o que diferencia todos eles e até mesmo caras um pouco mais velhos como Valtteri Bottas, Sergio Perez e Nico Hulkenberg, que também estão em condições de assumir um papel maior dentro da F-1, é a necessidade de ainda buscar o que Max já galgou.


Verstappen garantiu seu espaço entre os grandes nomes do Mundial. É vencedor de corrida, está em uma equipe grande e tem total apoio da cúpula rubro-taurina da Red Bull. Daqui em diante, só tende a crescer e se estabilizar como postulante a títulos, desde que tenha condições para tal. E para mim, é isso o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Por isso o vejo como principal expoente no que tange ao futuro da categoria, ao lado de seu companheiro, Daniel Ricciardo, que possui condições semelhantes às suas, talvez estando até um pouco acima devido a sua maior experiência. O holandês e o australiano parecem ser os caras certos no lugar certo.

No mais, são alguns desses caras que vão assumir os lugares a serem deixados por craques como Fernando Alonso, Kimi Räikkönen e Jenson Button, que estão cada vez mais próximos da aposentadoria, e que vão pelo menos dividir o protagonismo que hoje cai sobre pilotos estabilizados como Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Nico Rosberg.

Não tenho dúvidas de que três ou quatro pilotos que citei acima estarão brigando por títulos quando tiverem condições. E é bom ver que, pelo menos em termos de pilotos, a F-1 estará em boas e talentosas mãos.

Fotos: GPUpdate.net
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